Ontem ocorreu um episódio comigo digno dos seriados de humor norte americanos. Considerei-o tão profundo e ao mesmo tempo esquisito que não pude deixar de relatar neste blog. Eu faço academia três vezes por semana e ontem era um destes dias.
Eram umas sete da noite, eu já havia acabado meu exercício e, após o alongamento, desci para a recepção, onde esperava encontrar minha mãe e meu irmão. Como sempre, eles estavam um pouco atrasados e eu pude conversar com o dono do estabelecimento. A título de história vamos chamá-lo de seu Jorge. Enquanto conversávamos sobre um assunto qualquer, uma menininha, que para mim parecia ter uns 9 anos, estava sentada, inquieta, no sofá, à espera de sua mãe.
A garotinha tinha batom nos lábios, cabelos compridos e vestia-se como adolescente, no entanto, ao seu lado, sentava-se uma boneca. Durante minha conversa com o seu Jorge, a garotinha não tirava os olhos de mim, numa clara perturbação. Na idade dela eu agia da mesma forma quando queria conversar com alguém mas não achava uma brecha.
O seu Jorge, que não é nem um pouco bobo, com seus 65 anos de experiência, percebeu que a situação seguinte seria engraçada. Introduziu a menininha na conversa dizendo:
- Está vendo essa guria? – Eu respondi que sim, afinal, posso até ser meio cego do olho direito e não enxergar nada do esquerdo, mas eu a via.Ele completou:
- Ela já tem namorado – Não pude evitar a surpresa, mas é claro que imaginei que fosse mais uma das brincadeiras que os mais velhos pregam nas crianças. A minha surpresa foi com a resposta da criança.
- É verdade, eu tenho. – E ela ainda completou: - Esse é o meu terceiro.
Depois disso caí em uma risada convulsiva e incontrolável, ver aquele rostinho infantil falando aquilo era demais pra mim. Nisso, alguns adultos entraram no recinto e observavam, atentos, o diálogo da menina-adolescente. Ela me fitou e, com um olhar sério, me perguntou:
- Tu “tem” namorada? – Como eu não sabia qual a concepção que uma garotinha naquela idade tem de um relacionamento optei por responder negativamente. Claro que após isso eu fui o objeto hilariante. Quando eu achei que tinha terminado ela solta mais uma: - Quantos anos tu “tem”? – Eu respondi honestamente e ela fez uma observação muito pertinente:
- Tudo isso e não tem namorada?- Esperou a frase fazer efeito e soltou outra.
- Quando tu “deu” teu primeiro beijo? – Depois dessa os adultos também não agüentaram, e eu, aturdido, não sabia o que responder. Na dúvida, falei o que me veio à cabeça, 12 anos.
Naquele momento ela ficou quieta, com olhar perdido, como se estivesse digerindo tudo aquilo que eu disse. Todos que estavam no local não tiravam os olhos dela, e eu já estava pasmo. Nunca que eu imaginaria isso de uma guria de no máximo 11 anos. Eu virei para o seu Jorge e disse:
- Nessa idade eu ainda assistia Power Rangers, Escolinha do Prof. Raimundo e Chaves! Hoje eles já tem msn, orkut, celular..-
A garota ainda disse em tom irônico demais para sua tenra idade:
- Tenho tudo isso que tu disse!-
Daí a mãe dela irrompe pelas escadas e ela grita:
- MÃEEE!!!-
Eu saí de lá me perguntando: “Será que ela é precoce ou eu é que estou atrasado?”