sábado, 22 de maio de 2010

A insaciável

Eu era bem mais velho que ela, no entanto, isso não era de grande importância para nós. Ela trabalhava na biblioteca pública e nos encontrávamos após seu expediente. Quando os poucos leitores que ainda freqüentavam aquele ambiente saiam do recinto, ela corria até a estante vinte e um. Lá eu esperava pacientemente.


Nas duas últimas semanas tinha sido sempre assim, ela se aproximava sem falar nada e, de repente, me segurava. Ela estava com quase trinta, me admirei muito com o seu interesse por mim. Não raro seus seios me tocavam e ela me fitava com interesse. Eu tentava lhe mostrar, com meus bons argumentos, que a felicidade residia na busca insaciável pelo prazer. Passávamos sempre uns quinze minutos juntos, nos sofás, nas cadeiras e uma vez até na mesa de trabalho dela! Só não nos aproximávamos da estante de número 13, ali ficavam as Bíblias. Quando isso acontecia, ela logo me largava. Infelizmente, era religiosa.


Foi assim durante toda semana, exceto na sexta. Ela saia às pressas para a Igreja com o marido. Não me importava, afinal, com a minha idade e já num estado de deterioração, o que eu queria mesmo era aproveitar. Na segunda-feira, passado o final de semana, ela não me procurou mais. Eu a vi com outro, mais novo. No final descobri que era apenas mais um, mais um livro na estante.


terça-feira, 11 de maio de 2010

Medo de quê?

Quando era criança, sentia um medo terrível do escuro. Esse sentimento nada mais é do que uma reação natural de aversão ao desconhecido e ao que põe em risco nossa integridade física e psicológica. Infelizmente, a violência urbana tomou o lugar do escuro e passou a me aterrorizar.


Quem já andou pelas ruas se comportando como um esquizofrênico? Quantos já deixaram de usar alguma roupa ou acessório a fim de reduzir os riscos de assalto? A mania de perseguição que nos aflige decorre do medo de sermos assaltados, uma vez que a incidência desses delitos é alta e suas conseqüências podem ser demasiado graves. Além de prejudicar nosso bem-estar, as tentativas de furto alteram nosso comportamento, deixamos de freqüentar ambientes noturnos e usar aquilo que desejamos em detrimento da segurança. A incompetência dos órgãos públicos em reduzir a criminalidade apenas acentua a sensação de insegurança e desconfiança.


Já fui assaltado na Av. Borges de Medeiros. As pessoas ao meu redor perceberam o que estava acontecendo e me olhavam como se eu fosse o autor do crime e não a vítima. A aparente indiferença das outras pessoas com o meu infortúnio se deve ao seu medo de chamar a atenção do assaltante e sofrer o mesmo problema. Demorei para superar essa fobia de andar pelo centro da cidade, entretanto essa experiência foi muito importante para meu amadurecimento.


Superar nossos temores é a melhor forma de aprendizagem. Quando crianças, deixamos de acobardar-se com escuro pois percebemos que nada se altera com a ausência de luz; quando adultos, prestamos mais atenção ao andar pelas ruas.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Castigo alternativo.

Há um garoto cujos pais são pessoas muito próximas a mim. Talvez a descrição de gordinho e ocioso não seja a melhor que eu possa dar sobre ele, mas para essa postagem é mais do que suficiente.


O problema do guri é o mesmo da maioria dos rapazes da sua idade, ele está no nono ano do Ensino Fundamental (equivalente a nossa antiga sétima série) e não sabe escrever nem ler direito. Obviamente que as constantes notas baixas em diferentes matérias dificultavam a constatação do problema. Os pais, com seu sentimento de dever, cumpriram o código de castigos estipulados socialmente. Atribuíram ao computador e ao vídeo-game a culpa, abolindo-os da residência.


O resultado do castigo durou apenas até o próximo boletim escolar (esqueci de dizer que o guri também escondia as provas dos pais). Sugeri a eles que solicitassem uma redação ao rapaz. O resultado não poderia ser mais catastrófico! Eles gritavam histéricos: “Nosso filho não sabe ler!!”


Fui voluntário para resolver o problema, mas seria do meu jeito. A partir de agora ele deveria ler no mínimo vinte páginas de um livro e escrever um resumo de vinde e cinto linhas sobre o que leu, todo dia. Além disso, deveria completar um glossário com as palavras que não conhecesse a fim de ampliar seu vocabulário. Os resultados da primeira semana foram esses:


Êxito = Prazer. (ele confundiu com êxtase)

Altivez = Ato de um pessoa altista.

Incitar = Ocultar, não citar. (faz sentido se considerarmos o prefixo "in" como negação)

Pseudônimo = Alguém que escreve obras de outra pessoa.

Absorto = Algo absurdo.

Séquito = Lugar de péssima aparência.


Felizmente, esses foram apenas os primeiros resultados. Obriguei-o a consultar o dicionário ao invés de imaginar os possíveis significados. Agora, um mês e meio após o início do castigo alternativo, comunico com todas as letras: ELE ESCREVE, E ESCREVE BEM!

Das Crenças e dos Credos

Já há algum tempo planejava falar de um tema tão controverso quanto futebol e política. Tudo bem, admito, política não é algo tão controverso quando se fala sobre a ética dos representantes. Meu objetivo é falar sobre religião, a minha religião. Acalmem-se, não vou tentar pregar nem convencer ninguém. Apenas esclarecer.


"Sim, sou ateu graças à deus!" (Adoro essa piada!).
Não acredito em nenhum tipo de divindade ou ser superior, nem na teoria do Desing Inteligente (criacionismo no sentido lato). Na realidade, não me encaixo muito bem na corrente ateística contemporânea, o Neoateísmo, embora seja essa a qual me inspiro, porque sou flexível o bastante para estudar outras formas de crenças e tentar estabelecer um vínculo de dependência entre o homem e um ser superior fictício.


A teoria mais comum, compartilhada e baseada em autores contemporâneos e do final do século 19, é a de que, em algum momento da história humana, surgiu a necessidade da crença em um deus como forma de manter a ordem social vigente. Por outro lado, eu cheguei a outra conclusão que me levou a crer que as divindades são uma forma de nos afastarmos do nosso medo mais fecundo, a morte. Todas, absolutamente todas as religiões do mundo acreditam em uma pós-morte, seja ela o céu, a reencarnação, ou o purgatório. O ser humano acredita em deus simplesmente porque teme a morte.


Como explicar para um pai de família que ele trabalhará por mais da metade de sua vida, desfrutará de uma aposentadoria medíocre quando estiver velho e morrerá? Caso não haja uma forma de recompensa àqueles que cumprirem com o socialmente correto, não teríamos paz.

BAH!!!

Somente um grande e belo “BAH”, que nos enche a boca quando pronunciado, é capaz de expressar o que sinto ao escrever novamente neste espaço. É formidável poder compartilhar com amigos e desconhecidos algumas idéias e um pouco do meu dia-a-dia. Estava sentindo muita falta disso tudo.


Talvez seja de bom tom que explique a minha ausência demasiado longa. Pois bem, como muitos sabem (ou nem tantos), estou na fase final do meu Ensino Médio. Entre tomar um rumo na vida ou voltar para debaixo da asa da mãe. Até agora, só obtive êxitos nas empreitadas, sei que muito disso foi devido ao esforço e a incapacidade das outras pessoas de tomar o meu lugar. Sim, existe competição até no Ensino Médio.


Ainda paira sobre mim a grande dúvida da existência humana, o clássico: E agora, o que fazer? Fui aprovado para o curso de Eng. Química na UFRGS, mas não tenho certeza se esse é realmente meu objetivo. Enquanto não encontro as devidas respostas, continuo escrevendo!

 
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