quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Manifesto Contra a Manifestação.

Alunos me pararam, na saída do meu colégio, distribuindo panfletos solicitando a minha participação e a de outros estudantes em uma manifestação contra o ENEM. Concordo veementemente com os demais alunos que afirmam que uma prova importante como essa não foi tratada com a seriedade necessária, demonstrando descaso, novamente, com os candidatos e com a educação em geral. Todavia, é no mínimo um grande equívoco posicionar-se contra todo o sistema do Exame Nacional do Ensino Médio.

Estudantes não se manifestam a favor de salários dignos aos professores estaduais, estudantes não se mobilizam contra a insegurança em salas de aula ou contra as diretrizes de matérias ministradas do MEC. Por que uma manifestação dia 12? Por que o ENEM? A verdade é que o ENEM tornou-se uma ameaça para os setores tradicionais da educação gaúcha, evidenciando nossa defasagem e baixa qualidade de ensino. Entretanto, apenas isso não justifica ceifar de milhares de jovens menos favorecidos a oportunidade de ingresso no ensino superior.

Todos têm o direito à manifestação, apenas creio que devem ter consciência sobre por que se manifestam e quais serão suas conseqüências. Se os estudantes buscam mudanças, a maior e melhor mudança para a educação no estado é o próprio ENEM.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Pedido: sejam pais de verdade e salvem seus filhos.

"Quando existe avanço tecnológico sem avanço social, surge quase automaticamente, um aumento da miséria humana." (Michael Harrington)


Neste final de semana, quando conversava em frente à televisão, algo na tela chamou minha atenção. Olhei para o televisor e só pude, infelizmente, captar o final de uma reportagem do Fantástico. Claro, as imagens eram chocantes, como não poderiam deixar de ser, mas algo além delas chamou mais a minha atenção. Vivemos em um país aonde o rico divide a rua com o miserável, aonde poucos têm muito e muitos têm pouco. Há um algo, no entanto, que atinge a todos, direta ou indiretamente, sem distinção de classe, cor, religião, poder aquisitivo e sexo; as drogas.


Alcalóides sempre existiram e provavelmente existirão por muito mais tempo do que a humanidade,no entanto, seu uso indiscriminado jamais foi tão difundido. Os Ingleses, ainda no séc. XIX, viciaram a Ásia em ópio. No início dos anos 50, o LSD ainda era uma substância relativamente nova e não se sabia ao certo seus reais efeitos sob o organismo humano. Com isso em mente a CIA, Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos, iniciou um projeto de pesquisa sob o codinome Project MKULTRA. Os experimentos consistiam em administrar a droga a empregados da CIA, pessoal militar, doutores, outros funcionários do governo, prostitutas, pacientes com problemas psiquiátricos e membros da população, normalmente sem que soubessem que estavam participando dessa “pesquisa macabra”. Esse projeto foi revelado durante o relatório da US Congressional Rockefeller Commission Report em 1975. O mais curioso, no entanto, é que o LSD só foi proibido nos EUA em 28 de Outubro de 1968, dezoito anos após o início dos experimentos. A história humana e seu vínculo com essas substâncias seria engraçada, se não fosse trágica. O vício pode submeter uma população ao controle de um país estrangeiro, pode ser uma arma contra o comunismo, mas leva muitas vidas consigo.


O que leva a um jovem desistir de seu futuro e entrar num mundo como esse? O que move pessoas de diferentes situações sociais a convergirem para o mesmo fim destrutivo?


Aquela velha história que as mães costumam passar para os filhos e que as instituições de ensino adoram palestrar, de que a droga é, para muitos jovens, uma forma de entrar em um círculo de amizades já não é mais uma realidade. O uso indiscriminado e a busca pelo prazer, muitas vezes sabendo dos riscos e conseqüências, viraram realidade. Há crianças que passam até 16 horas em frente a uma tela de computador, jovens que morrem em excursões de formatura porque entraram em coma alcoólico, outros que acham bacana e divertido ir a “festas” sob influência medicamentos, isso sem falar nos muitos que morrem com a droga da carteira de habilitação no bolso.


Por trás de todos os exemplos já citados existe algo em comum, a permissividade dos pais e a falta de limites dos filhos. Se quiserem culpar alguém pela situação do mundo, do seu país, da sua cidade, culpem a si mesmos.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A lei ensina, pais não batem.


A educação não precisa de castigos físicos. É isso que a polêmica “Lei da Palmada” estabelece. Além de fomentar o diálogo sobre violência doméstica, ela também procura firmar novas bases para a educação infantil.


Pais e educadores da “velha guarda” (ligados a antigas correntes de ensino) defendem o uso da palmada como instrumento pedagógico. Segundo eles, essa é a maior demonstração de desaprovação que os pais podem manifestar, e o melhor, qualquer criança é capaz de compreender. O que não se percebe, no entanto, é o dano que o tapa causa nas crianças. Elas compreendem a desaprovação de seus pais com suas atitudes, mas não entendem o que fizeram de errado. Isso acontece porque, nesses casos, o trauma da agrassão é tão forte que impede a assimilação de qualquer explicação subseqüente. Quando a repressão verbal não surte efeito nas crianças é sinal de que o vínculo de confiança e autoridade foi rompido. Castigos físicos são incapazes de reatar esses laços.


Há um tempo atrás, quando a “Lei Seca” estava em trâmite, fizeram as mesmas acusações que hoje atingem a “Lei da Palmada”. Criticam-na sob a ótica de uma redução das liberdades individuais e da autonomia do lar. Esquecem-se, os acusadores, entretanto, que o objetivo da lei é reprimir o abuso de autoridade, não se trata de acabar com a ordem e a hierarquia doméstica. Nenhum magistrado interpretaria a lei no caso de um reflexo preventivo, como quando um pai bate na mão de seu filho para evitar que ele ponha o dedo na tomada. A lei incidiria sobre casos em que a palmada é uma punição recorrente. Além disso, vale ressaltar os benefícios que a polêmica causa. Assim como no caso da proibição do consumo de bebidas alcoólicas por motoristas, o estímulo ao debate é um dos fundamentos da discussão e conscientização. Isso tudo é primordial para atingir o objetivo dessa medida, reduzir a violência doméstica em nosso país.


A “Lei da Palmada” é indispensável a fim de que as futuras gerações tenham bases coerentes para a educação infantil. Desta forma, pais e educadores procurarão dar atenção a seus filhos como forma de restabelecer o respeito mútuo, sem ter de recorrer a palmadas.

domingo, 13 de junho de 2010

Insanidade

E eu o que sou?
Normal?
Acho que não

Na verdade louco
Sou louco por ti

P.S.:
Depois de ler Estrela da Vida Inteira
Resolvi fazer essa brincadeira
De bancar o Manuel Bandeira

sábado, 22 de maio de 2010

A insaciável

Eu era bem mais velho que ela, no entanto, isso não era de grande importância para nós. Ela trabalhava na biblioteca pública e nos encontrávamos após seu expediente. Quando os poucos leitores que ainda freqüentavam aquele ambiente saiam do recinto, ela corria até a estante vinte e um. Lá eu esperava pacientemente.


Nas duas últimas semanas tinha sido sempre assim, ela se aproximava sem falar nada e, de repente, me segurava. Ela estava com quase trinta, me admirei muito com o seu interesse por mim. Não raro seus seios me tocavam e ela me fitava com interesse. Eu tentava lhe mostrar, com meus bons argumentos, que a felicidade residia na busca insaciável pelo prazer. Passávamos sempre uns quinze minutos juntos, nos sofás, nas cadeiras e uma vez até na mesa de trabalho dela! Só não nos aproximávamos da estante de número 13, ali ficavam as Bíblias. Quando isso acontecia, ela logo me largava. Infelizmente, era religiosa.


Foi assim durante toda semana, exceto na sexta. Ela saia às pressas para a Igreja com o marido. Não me importava, afinal, com a minha idade e já num estado de deterioração, o que eu queria mesmo era aproveitar. Na segunda-feira, passado o final de semana, ela não me procurou mais. Eu a vi com outro, mais novo. No final descobri que era apenas mais um, mais um livro na estante.


terça-feira, 11 de maio de 2010

Medo de quê?

Quando era criança, sentia um medo terrível do escuro. Esse sentimento nada mais é do que uma reação natural de aversão ao desconhecido e ao que põe em risco nossa integridade física e psicológica. Infelizmente, a violência urbana tomou o lugar do escuro e passou a me aterrorizar.


Quem já andou pelas ruas se comportando como um esquizofrênico? Quantos já deixaram de usar alguma roupa ou acessório a fim de reduzir os riscos de assalto? A mania de perseguição que nos aflige decorre do medo de sermos assaltados, uma vez que a incidência desses delitos é alta e suas conseqüências podem ser demasiado graves. Além de prejudicar nosso bem-estar, as tentativas de furto alteram nosso comportamento, deixamos de freqüentar ambientes noturnos e usar aquilo que desejamos em detrimento da segurança. A incompetência dos órgãos públicos em reduzir a criminalidade apenas acentua a sensação de insegurança e desconfiança.


Já fui assaltado na Av. Borges de Medeiros. As pessoas ao meu redor perceberam o que estava acontecendo e me olhavam como se eu fosse o autor do crime e não a vítima. A aparente indiferença das outras pessoas com o meu infortúnio se deve ao seu medo de chamar a atenção do assaltante e sofrer o mesmo problema. Demorei para superar essa fobia de andar pelo centro da cidade, entretanto essa experiência foi muito importante para meu amadurecimento.


Superar nossos temores é a melhor forma de aprendizagem. Quando crianças, deixamos de acobardar-se com escuro pois percebemos que nada se altera com a ausência de luz; quando adultos, prestamos mais atenção ao andar pelas ruas.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Castigo alternativo.

Há um garoto cujos pais são pessoas muito próximas a mim. Talvez a descrição de gordinho e ocioso não seja a melhor que eu possa dar sobre ele, mas para essa postagem é mais do que suficiente.


O problema do guri é o mesmo da maioria dos rapazes da sua idade, ele está no nono ano do Ensino Fundamental (equivalente a nossa antiga sétima série) e não sabe escrever nem ler direito. Obviamente que as constantes notas baixas em diferentes matérias dificultavam a constatação do problema. Os pais, com seu sentimento de dever, cumpriram o código de castigos estipulados socialmente. Atribuíram ao computador e ao vídeo-game a culpa, abolindo-os da residência.


O resultado do castigo durou apenas até o próximo boletim escolar (esqueci de dizer que o guri também escondia as provas dos pais). Sugeri a eles que solicitassem uma redação ao rapaz. O resultado não poderia ser mais catastrófico! Eles gritavam histéricos: “Nosso filho não sabe ler!!”


Fui voluntário para resolver o problema, mas seria do meu jeito. A partir de agora ele deveria ler no mínimo vinte páginas de um livro e escrever um resumo de vinde e cinto linhas sobre o que leu, todo dia. Além disso, deveria completar um glossário com as palavras que não conhecesse a fim de ampliar seu vocabulário. Os resultados da primeira semana foram esses:


Êxito = Prazer. (ele confundiu com êxtase)

Altivez = Ato de um pessoa altista.

Incitar = Ocultar, não citar. (faz sentido se considerarmos o prefixo "in" como negação)

Pseudônimo = Alguém que escreve obras de outra pessoa.

Absorto = Algo absurdo.

Séquito = Lugar de péssima aparência.


Felizmente, esses foram apenas os primeiros resultados. Obriguei-o a consultar o dicionário ao invés de imaginar os possíveis significados. Agora, um mês e meio após o início do castigo alternativo, comunico com todas as letras: ELE ESCREVE, E ESCREVE BEM!

 
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