sábado, 22 de maio de 2010

A insaciável

Eu era bem mais velho que ela, no entanto, isso não era de grande importância para nós. Ela trabalhava na biblioteca pública e nos encontrávamos após seu expediente. Quando os poucos leitores que ainda freqüentavam aquele ambiente saiam do recinto, ela corria até a estante vinte e um. Lá eu esperava pacientemente.


Nas duas últimas semanas tinha sido sempre assim, ela se aproximava sem falar nada e, de repente, me segurava. Ela estava com quase trinta, me admirei muito com o seu interesse por mim. Não raro seus seios me tocavam e ela me fitava com interesse. Eu tentava lhe mostrar, com meus bons argumentos, que a felicidade residia na busca insaciável pelo prazer. Passávamos sempre uns quinze minutos juntos, nos sofás, nas cadeiras e uma vez até na mesa de trabalho dela! Só não nos aproximávamos da estante de número 13, ali ficavam as Bíblias. Quando isso acontecia, ela logo me largava. Infelizmente, era religiosa.


Foi assim durante toda semana, exceto na sexta. Ela saia às pressas para a Igreja com o marido. Não me importava, afinal, com a minha idade e já num estado de deterioração, o que eu queria mesmo era aproveitar. Na segunda-feira, passado o final de semana, ela não me procurou mais. Eu a vi com outro, mais novo. No final descobri que era apenas mais um, mais um livro na estante.


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